Foi se o tempo em que deixar no vazio na hora de cumprimentar era algo negativo. Agora ninguém mais quer encostar. E isso já faz parte do que podemos chamar de o novo normal na comunicação e no contato pessoal durante a quarentena na pandemia do novo coronavirus. E por conta disso estamos mais seguros.
Ainda que, muita gente, inclusive eu, está sentindo falta do abraço. Em casa, e só em casa, quase todos os dias eu peço um abraço prolongado para a minha esposa. E posso te dar certeza de que isso faz muito bem.
Junto com a falta de abraços, e carinhos provenientes do toque, nossa comunicação, sem o contato físico, também sofre pequenas alterações que são quase imperceptíveis.
Sabe quando a gente se aproxima das pessoas e sente um impulso de cumprimentar com toque? Pois é isso o que mudou. A percepção ainda não virou completamente automática para todos. Ainda existe uma inércia do dar a mão, do beijo, do abraço habitual.
Sabemos que essas mudanças são temporárias e por isso, nos sentimos incomodados, pois tivemos que fazer uma alteração muito significativa em um hábito que está muito arraigado em nossa cultura. E isso foi feito no mundo todo. A não ser em culturas onde o cumprimento já era feito apenas com uma enclinação do tronco e sem contato físico, as outras todas precisaram adotar a nova conduta no cumprimento.
Além dessa alteração mais evidente, ainda podemos considerar que existe um olhar alterado na aproximação. Esse olhar é como se fosse a confirmação de que o outro, não apenas está ciente da necessidade do distanciamento, como também aceita o novo comportamento e entende que isso agora faz parte do novo normal na comunicação e no contato pessoal.
Por causa dessa mudança radical, em função de uma consciência global de proteção mútua, toda a sociedade conseguiu migrar para a nova atitude sem que houvesse sequer um protesto público. Os protestos são particulares mesmo.
Como vimos, o grande argumento da proteção da saúde foi o bastante para isso. Quando é a vida que está em risco, mudanças drásticas são aceitas quase que de imediato.
E a onda gerada pelo novo comportamento em função da conscientização de massa fez o restante. É claro que isso tudo foi feito de comum acordo e com a divulgação macissa pelas mídias de comunicação de massa.
Quem mais sente os efeitos negativos do novo normal na comunicação e no contato pessoal?
Sabemos que os mais experientes entre nós, com a idade, sentem mais falta do contato físico e da proximidade. A convivência é uma marca significativa na comunidade humana.
Apesar de alguns povos serem característicamente mais frios em relação ao contato físico, mesmo eles estão sentindo falta dessa forma de relação.
Essa avó não se rendeu ao novo normal na comunicação e no contato pessoal. No aniversário de seus netos ela cantou os parabéns da janela do seu apartamento no segundo andar para eles que receberam o carinho do estacionamento.
A cena do vídeo da vovó carinhosa com seus netos nos mostra o que é esse novo normal na comunicação.
Quais são as mudanças mais significativas?
Entre as alterações sugeridas como fundamentais também temos aquelas que são sutis e vem a tira colo dessas maiores e mais impactantes:
- Evitar o contato físico: perda da percepção do estado físico e fisiológico que temos ao apertar a mão, ou abraçar. Perda do significado social do cumprimento com aperto de mão, beijo ou abraço. O toque durante a conversa também faz perder parte do aprofundamento dos significados mais emocionais da comunicação.
- Manter um distanciamento físico em torno de 2 metros em espaços públicos e no comércio: perdemos parte dos conteúdos que nos chegam pelo sentir mais refinado do choque de aura. A proximidade física nos coloca dentro da zona de emanação eletromagnética do corpo físico/mental das pessoas, a chamada aura, que nos proporciona percepções mais sutis, principalmente do estado psíquico, emocional e das intenções das pessoas.
- Uso de máscara: não podemos fazer leitura labial e perdemos parte da interpretação emocional pela falta de visão das expressões do nosso interlocutor.
- Evitar aglomerações: a proibição, por parte das autoridades governamentais, de eventos públicos, bem como de viagens e outras formas de promoção de aglomeração trouxe uma significativa perda do senso de pertencimento em relação aos motivos da aglomeração. Seja pelos artistas nos shows, seja pelos profissionais ou temas de eventos profissionais, seja pelas trocas comerciais em feiras e eventos de negócios.
- Trabalho remoto: o que estamos chamando de “home office”, como nova forma de trabalho, proporcionou um impacto na convivência mais íntima das famílias. Agora, até os pets sentem uma grande diferença na presença mais permanente de todos os membros do grupo familiar. Por outro lado, nem todos se sentiram muito confortáveis, tanto em ter que evitar sair tanto de casa, como em ter que conviver muito mais dividindo seu espaço e tempo com seus entes que, em muitos casos perceberam não ser tão queridos.
O uso frequente de alcool e o hábito reforçado de higine pelo lavar das mãos nos coloca em um estado de alerta permanente, trazendo um nível mais elevado de preocupação com a possibilidade de se pegar o vírus. Parece um contra senso, mas a questão aqui é que nós não conseguimos parar de pensar no vírus por causa dos novos hábitos higiênicos que nos garantem uma parte da segurança no novo normal na comunicação e no contato pessoal.
No campo dos negócios, a comunicação também sente seus processos serem alterados de forma consistente e duradouras em função do momento.
O tempo vai formando um novo hábito pela consistência das novas atitudes. E em breve estaremos acostumados a um novo distanciamento. Isso deverá mecher no padrão de “prochêmica” do brasileiro. Talvez nos tornemos um povo mais distantee frio. Porém isso será efeito da consciência pelo cuidado mútuo. Um novo normal positivo, ainda que não tão bom como antes.